Ao sair do quartel, Carlesse diz que prisão por suspeita de fuga é perseguição política: 'Jamais ia fugir'

O ex-governador Mauro Carlesse (Agir) comentou sobre a prisão por suspeita de fuga para o exterior nesta quarta-feira (19), logo após sair do Comando Geral da Polícia Militar, onde estava detido. Ele alegou sofrer perseguição política e considerou a ação 'absurda'. Carlesse ficou preso por mais de dois meses, após investigação da Gaeco apontar que ele estaria planejando fugir para Itália e Uruguai com a ajuda do sobrinho e ex-secretário Claudinei Quaresemin.
O pedido de habeas corpus da defesa foi atendido através de uma liminar pelo ministro do STJ, Antônio Saldanha Palheiro. Os efeitos da decisão também atendem ao ex-secretário Claudinei Aparecido Quaresemin, sobrinho do ex-governador, que também é investigado.
O ex-governador é alvo em pelo menos cinco investigações por desvio de dinheiro, fraudes de licitação e outros crimes, além de também responder a ações penais. Para Carlesse, a prisão se trata de uma perseguição política.
"Nesse estado, se não mudar essas perseguição política é difícil, mas eu não abaixo a cabeça porque eu não devo, não devo e vou responder. Fiz tudo que podia em todas as áreas, na saúde, na educação, na infraestrutura, na segurança pública e estou pagando esse preço por uma meia dúzia de incompetentes que tem nesse estado, que vive perseguindo as pessoas e no qual uma delas foi eu", comentou
Casa no exterior
Durante a coletiva, o ex-governador também falou sobre o aluguel de uma casa na Itália. Segundo as investigações, Quaresemin teria viabilizado o aluguel de uma casa no país europeu com o nome de uma intermediária. O valor foi de 1,5 mil euros de aluguel no imóvel, segundo o MP. Durante uma viagem, apesar de possuir a casa ele teria escolhido se hospedar em um hotel.
A prisão do ex-governador aconteceu no dia 15 de dezembro de 2024, em cumprimento a um mandado de prisão expedido pela 3ª Vara Criminal de Palmas. Ele estava a caminho de uma fazenda na zona rural de São Valério, no momento da ação.
Na decisão que autorizou a prisão, o juiz Márcio Soares da Cunha destacou também os diálogos e indícios que comprovam um possível risco de fuga para o exterior de Carlesse para o Uruguai ou Itália. O plano supostamente estava sendo arquitetado junto com o sobrinho, Claudinei Quaresemin.
Carlesse comentou que a prisão realizada próximo ao Natal foi uma surpresa e desnecessária, pois poderiam ter sido aplicadas medidas cautelares.
"De repente fui preso de uma forma que eu acho um absurdo. Poderia me chamar, podia contestar 'olha você não pode sair do país'. Não. Podia fazer qualquer outro tipo de medida, não. Vamos prender o Carlesse. Agora, eu ser preso numa véspera de Natal, passar o Natal, o Ano Novo e sem perspectiva nenhuma, ia passar o também o Carnaval. Eu tenho filha pequena, eu tenho responsabilidade. Ia viajar para fora no final do ano mesmo, eu ia viajar com a minha família e de repente opinei para fazer uma viagem aqui no Brasil mesmo, e infelizmente fui preso".
Ao longo dos dois meses, Mauro Carlesse chegou a ter vários pedidos de habeas corpus negados pela Justiça. O primeiro apresentado pela defesa foi negado pelo desembargador João Rigo Guimarães no dia 16 de dezembro.
Outros dois pedidos de liberdade também foram negados pelo desembargador Eurípedes Lamounier durante a semana. Depois, o juiz Márcio Soares da Cunha negou outro pedido após análise do caso. Mais duas solicitações foram negadas, pela desembargadora Angela Issa Haonat, do Plantão de 2ª Instância do TJ-TO.
Investigações contra Carlesse
Carlesse é alvo de pelo menos cinco investigações e responde a ações penais. Ele esteve no cargo de Governador do Tocantins entre os anos de 2018 e 2021. Ele foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) durante as investigações das operações Hygea e Éris, que apuram supostos pagamentos de propina no plano de saúde dos servidores públicos e aparelhamento da Polícia Civil.
Ele renunciou ao cargo em 2021 para evitar um processo de impeachment. Depois disto, as investigações, que estavam no âmbito federal, foram enviadas para a Justiça estadual. A estimativa dos investigadores é de que cerca de R$ 44 milhões tenham sido pagos como propina para membros do executivo só em relação ao plano de saúde dos servidores públicos.
Em 2024, Carlesse foi alvo de outra operação da Polícia Federal, que investiga possíveis crimes de fraude à licitação que teriam ocorrido em 2018 em contratos relacionados à extinta Secretaria de Infraestrutura, Cidades e Habitação do Estado do Tocantins. Foi nessa última operação que foram encontradas conversas e indícios de um suposto plano de fuga para o exterior. Carlesse nega que queria fugir do país.
Contra Carlesse constam as acusações de corrupção, lavagem de dinheiro, fraude em licitações, falsidade ideológica, obstrução de investigações, organização criminosa e peculato.